HABILIDADES DO ADMINISTRADOR

INTRODUÇÃO
Vive-se um período de profundas mudanças, em que o homem busca novos paradigmas
no sentido de encontrar soluções para problemas decorrentes de decisões tomadas pelas
gerações anteriores, muitas das quais ainda se mantêm. No Brasil, os problemas sociais
avolumam-se devido principalmente ao elevado índice de analfabetismo, à marginalidade e ao
grande desnível social. Um dos grandes problemas vividos pela sociedade em geral é o
desemprego que é agravado pela introdução de inovações tecnológicas.
“A grande massa de conhecimentos gerados e a velocidade
de introduções de inovações tecnológicas em junção com uma
globalização da economia alteraram os fatores de produção.
A forma clássica centrada na existência de matéria-prima,
capital e mão-de-obra barata foi substituída pela criação de
novos postos de trabalho” (Vogt & Ciacco, 1995:6).
Segundo Toffler (1990), há uma mudança de modelo, de trabalho manual para um outro,
que tem como base o trabalho simbólico, o conhecimento. Essa mudança afeta a relação de
emprego/desemprego, visto que cada vez mais reduz-se o trabalho manual em função dos
avanços tecnológicos. Dessa forma, a transferência dos empregos está se dando do setor de
manufatura para o setor de serviços, ao qual o autor atribui o nome de “ativid ade simbólica”. No
início desta década, o autor já chamava a atenção sobre isso, ao afirmar que
“... o deslocamento para longe do trabalho manual em
direção à prestação de serviços e à atividade simbólica tornouse
generalizado, dramático e irreversível. Nos Estados
Unidos, hoje, essas atividades respondem por 3 quartas
partes da força de trabalho. A grande transição é refletida
globalmente no surpreendente fato de que as exportações
mundiais de serviço e de ‘propriedade intelectual’ são iguais à
de produtos eletrônicos e automóveis juntas, ou às
exportações conjuntas de gêneros alimentícios e
combustíveis” (1990:95).
O desemprego passou, portanto, de quantitativo para qualitativo tendo como ingrediente
básico o Conhecimento. Para Toffler, “a questão passa a ser de distribuição de riqueza para
distribuição do conhecimento” (1990:96), o que evidencia o compromisso das escolas neste
contexto.
A passagem de um modelo industrial para um modelo baseado na prestação de serviços
vem exigindo uma nova postura tanto das empresas como das instituições de ensino que, juntas
devem repensar o rumo a ser seguido para se atingir um novo modelo socialmente mais justo. As
discussões em torno das profissões não podem estar dissociadas de um valor fundamental que é
o exercício da cidadania e nesse caso, a universidade deve incentivá-la, formando não apenas
especialistas mas,
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“ pessoas críticas de suas próprias profissões, que tenham
visão abrangente para entender qual seu papel profissional no
novo mundo em gestação, capacidade de interagir com outros
setores, e de atender às expectativas da opinião pública”
(Nassif, 1998:15).
Essa postura , traduzida em termos de compromisso do administrador profissional aponta
para a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre o seu verdadeiro papel na sociedade. A
decisão entre o rendimento máximo do capital investido e o melhor desempenho da função
social da organização pode ser a origem de um conflito ético enfrentado por esse profissional. O
movimento de globalização intensificado nas últimas décadas tem provocado pressões sobre as
empresas principalmente sobre os seus responsáveis que nem sempre agem tão eticamente
quanto desejariam.
O discurso da adoção de modelos flexíveis como caminho obrigatório para a
sobrevivência das organizações tem levado à exigência de novas habilidades dos profissionais:
polivalência, multifuncionalidade e visão global, entre outros. Tais mudanças não ficam restritas
ao mundo empresarial. São mudanças que atingem diretamente as universidades, entidades
responsáveis pela formação da maioria desses profissionais, com grande ênfase para os Cursos
de Administração que, mais do que nunca, estão atentos às mudanças externas buscando
promover internamente os ajustes necessários para que caminhem em sintonia com meio
externo.
NO PAPEL DA ESCOLA O INTERCÂMBIO UNIVERSIDADE - SOCIEDADE
Na opinião de Drucker (1996), a escola deve superar o significado atual da palavra
“educação”, estimulando os estudantes de todas as idades ao aprendizado permanente, devendo
ser portadora, para tal, das seguintes especificações:
“. (...) deve prover uma educação universal de ordem superior muito além do que ‘educação’
significa hoje.
. Ela precisa imbuir os estudantes de todos os níveis e todas as idades de motivação para
aprender e da disciplina do aprendizado permanente.
. Ela tem que ser um sistema aberto, acessível tanto a pessoas altamente educadas como a
pessoas que, por qualquer razão, não tiveram acesso a uma educação avançada anteriormente.
. Ela precisa comunicar conhecimento como substância e também como processo - aquilo que os
alemães chamam de Wissen e Können1.
. Finalmente, o ensino não pode mais ser um monopólio das escolas. Na sociedade póscapitalista,
a educação precisa permear toda a sociedade. As organizações empregadoras de
todos os tipos - empresas, agências governamentais, instituições sem fins lucrativos - também
precisam se transformar em instituições de aprendizado e ensino. As escolas devem, cada vez
mais, trabalhar em parceria com os empregadores e suas organizações”(1996:154).
1 . Saber e Poder.
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Drucker também chama também a atenção para o fato de que tradicionalmente escola e
empresas desempenharam papéis específicos. Na primeira aprendemos e na segunda
trabalhamos. Mas a escola deve ir além disso e se tornar um espaço de reciclagem de
profissionais, de aprimoramento contínuo.
O Curso de Administração, tem uma grande responsabilidade na mudança deste quadro,
manifestada através da qualificação dos profissionais que forma, não apenas tecnicamente, mas
como sujeitos portadores de formação crítica e de conhecimento, que lhes permitam interferir
nesta realidade. Isso não significa que os projetos pedagógicos dos Cursos de Administração
devam submeter-se passivamente à ordem vigente no meio empresarial, mas é inquestionável que
a realidade deva ser levada em consideração.
É nesse contexto que as pesquisas mostram-se importantes ao gerar resultados que
permitam subsidiar o ensino da administração, incorporando a discussão sobre a realidade
regional ao cotidiano das aulas. A pesquisa é portanto uma das formas de se trazer a realidade
externa para dentro da Universidade.
O ciclo será completado quando, estimulado pelo fluxo de informações no sentido de
fora para dentro (do meio externo para o meio acadêmico), promover o desenvolvimento de um
fluxo interno (absorção do conhecimento novo pelo ensino) que, por sua vez, gerará uma
resposta de dentro para fora (do meio acadêmico para o meio externo), através das ações dos
alunos profissionais e da socialização dos conhecimentos .
No ambiente externo, a forte pressão exercida pelo processo de globalização sobre as
empresas exigindo delas postura cada vez mais competitivas, transformou a qualidade em eixo
dos discursos a partir das mais variadas justificativas, discursos esses que se generalizaram de tal
forma a ponto de terem se transformado em grito de guerra em todos os setores da atividade
humana (Fernandez Enguita, 1995).
“A qualidade se converte assim em uma meta compartilhada,
no que todos dizem buscar. Inclusive aqueles que se sentem
desconfortáveis com o termo não podem se livrar dele vendose
obrigados a empregá-lo para coroar suas propostas, sejam
lá quais forem. Qualquer proposta relativa a conversar,
melhorar ou mudar isto ou aquilo, não importa o que seja,
deve explicar-se em termos de qualidade” (1995:95).
No ensino, em particular, acreditou-se inicialmente que a qualidade decorresse do
volume de investimentos feitos na área, ou seja, os resultados seriam proporcionais ao montante
aplicado. Mais tarde, qualidade tornou-se sinônimo de eficácia, refletindo a lógica da produção
empresarial privada (Fernandez Enguita,1995), mas deve encerrar também criatividade e
contribuição para a soberania da sociedade (Buarque, 1994).
A escola, dado seu importante papel, foi responsabilizada, no transcorrer da história,
pelos insucessos da sociedade, acusação essa que esconde as suas verdadeiras causas.
Atualmente, sendo a crise de empregos e do pequeno crescimento econômico das Nações uma
constante, “o discurso oficial responsabiliza a educação por ambas as coisas” (Fernandez
Enguita,1995:103). É como se a escola pudesse ser responsabilizada tanto pelos problemas
como pela sua solução, sempre que as coisas não caminhem como desejado.
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Numa relação de causa e efeito, a sociedade sofre as conseqüências das acusações
mútuas entre as esferas empresarial e acadêmica enquanto que, em lugar do distanciamento, seria
mais oportuna uma maior aproximação tendo por objetivo a solução dos problemas. Não é o
caso de se estar reduzindo questões complexas, como por exemplo o desemprego, a uma
posição simplista em que a solução possa depender apenas de duas diversas partes interessadas.
De qualquer forma, por algum lugar deve-se começar, alguém deverá ter a iniciativa e dar o
primeiro passo.
A universidade em particular, no seu papel de responsável pela produção e socialização
do conhecimento também não escapa às críticas, pois nem mesmo em seu interior há consenso
quanto ao seu posicionamento diante das questões que atingem o ambiente externo. Para alguns
ela deva sair do enclausuramento e aproximar-se mais da sociedade, posição essa não
hegemônica. Em contraposição os “conservadores tradicionalistas” não querem mudanças por
não verem necessidade em conciliar os interesses da academia com os anseios da sociedade. Há
também os “conservadores revolucionários” que, por sua vez, acreditam que as mudanças já
foram feitas estando assim a universidade sintonizada com a sociedade. Em função disso, um
estado de inércia instalado tende a tornar a situação cada vez mais grave (Buarque:1994).
Algumas universidades já despertaram para estas questões, cientes de sua inserção na
realidade, sensíveis aos problemas da sociedade, comprometendo-se com sua solução,
assumindo objetivos que transpõem as fronteiras do ensino conservador. Rogério C. de
Cerqueira Leite2, afirma que ensino, pesquisa e serviço são meios para se alcançar as
verdadeiras finalidades básicas da Universidade moderna e que se resumem “na promoção do
pensamento crítico, na preservação da cultura e da identidade nacional, na expansão das
fronteiras do conhecimento científico e técnico e na melhoria da qualidade de
vida”(Nagle,1995:15)
Exemplos desse tipo podem ser encontrados em algumas universidades que, valorizando
atividades de extensão, criaram órgãos destinados à transferência de tecnologia, incubadoras de
empresas, programas de estágio, organização de simpósios, seminários, congressos, participação
de professores estrangeiros no ensino. Algumas contratam empresários que participam do ensino.
Afinal, os estudantes devem representar a razão dessa integração, a partir da expectativa de sua
futura contribuição quando, como profissionais ou empresários, estimularão a aproximação entre
a empresa e a universidade por reconhecerem seu benefício. Consequentemente, profissionais
formados em escola que valoriza a interação entre os dois ambientes, procurarão estreitar esses
laços.
Essa aproximação desejável entre Universidade e Comunidade deverá, em primeiro
lugar, exigir do meio acadêmico a superação do temor de submissão de seus inte resses aos das
instituições com as quais venha interagir. O receio de perda de identidade acadêmica tem sido
uma das principais causas do afastamento entre a universidade e o setor produtivo, o que, na
opinião de Nagle é injustificável, pois
“Nada induz a concluir que um tal enriquecimento prejudique
o cultivo da mente; pelo contrário, tudo colabora para
sedimentar o ponto de vista de que ocorrerá um maior
aperfeiçoamento mental devido, especialmente, à
2 . Citado em NAGLE (1995).
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incorporação de novos e diversificados elementos, com o que
fica aumentado o raio de ação em que a mente se exercitará”
(1995:15).
A desconfiança mútua, entre Universidade e Sistema Empresarial, é histórica. Se de um
lado o meio acadêmico justifica-se em nome da luta pela liberdade intelectual e não subordinação
ao interesse empresarial, do outro, os empresários questionam a competência dos acadêmicos
em propor soluções práticas e imediatas para os seus problemas (Fava de Moraes, 1995). Essa
questão deve ser superada, pois novas formas de associação de empresas com institutos de
pesquisa são fundamentais para a modernização do parque industrial e as parcerias devem atuar
como via de mão dupla, com benefícios para as duas partes (Vogt & Ciacco,1995). Devemos
considerar que
“a construção desse caminho não é incompatível com a
participação conjunta e autônoma da tríade universidade -
empresa-governo (...) não há mais nenhum setor do saber em
que essa integração não possa ocorrer em que não haja
muitos otimistas e poucos céticos (...) e, sempre que houver
o estudante envolvido, teremos o CATALISADOR
necessário para que não haja inércia, isolamento, e, mesmo
que o sucesso não seja total, estaremos enfrentando com a
criatividade o prazer do risco, à semelhança dos países que
se tornaram ricos e desenvolvidos” (Fava de
Moraes,1995:19).
Na opinião de Buarque (1994) a Universidade brasileira, diante das dificuldades
enfrentadas, deveria beneficiar-se do momento para mostrar sua criatividade, educando-se para
funcionar sem verbas e com o potencial da sociedade. Quanto maior for a sua importância para a
sociedade, mais estará a seu serviço. O compromisso da Universidade deve ser a formação de
profissionais para o desenvolvimento do país e para que isso seja possível deverá rever
continuamente seus métodos, inspirando-se nas realidades da vida sócio-econômica, o que nem
sempre é considerado, já que
“enquanto que as modificações rápidas da tecnologia tendem
a fazer com que as Universidades dos países mais
avançados abandonem as formações altamente
especializadas para insistir sobre formações gerais mais
polivalentes, as Universidades dos países em via de
desenvolvimento abandonam as formações gerais para
adotar programas que visam formações especializadas,
exigidas pelo desenvolvimento tecnológico do país. O
movimento é inverso, mas as condições são muito diferentes”
(Henri,1981:107).
As propostas acima refletem a postura de profissionais diretamente envolvidos com a
educação em nosso país e que deveriam ser incorporadas às reflexões sobre a interação Curso
de Administração-Empresas sem sacrifício da autonomia de qualquer uma das partes,
desenvolvendo assim a construção de um processo de parceria. A universidade não pode
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continuar sendo o lugar onde se aprende e a empresa o lugar onde se trabalha. Em lugar disso,
universidade e empresa devem, principalmente em um país como o nosso, caminhar juntas em
busca da solução dos problemas, não se restringindo apenas aos que as afetam diretamente,
considerando porém todos os decorrentes do nosso complexo contexto social.
Cada vez mais as organizações, notadamente as de grande porte, têm chamado para si o
papel de educadoras, promovendo a atualização de seu pessoal com a ajuda de profissionais não
recrutados no meio universitário. Em função disso as universidades tendem a ficar cada vez mais
isoladas, algumas delas sentindo-se confortáveis nessa posição por não precisarem se
comprometer com o desenvolvimento das organizações. Entretanto, a relação universidadeempresa
deve ser entendida como um meio para se atingir a sociedade como um todo e não fim
em si mesmo.
A integração universidade-comunidade já se concretizou em algumas universidades,
como é o caso da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), da Universidade de São
Paulo (USP) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nesses casos a ênfase da
relação tem se dado mais intensamente no campo do desenvolvimento tecnológico. Na UNIMEP
trabalho nesse sentido vem sendo desenvolvido através da atuação do Centro de Estudos e
Pesquisa em Administração (CEPA)3. Estudos sobre empresas familiares e sobre o perfil do
administrador são duas das linhas de pesquisa que têm por objetivo explorar a realidade regional.
Focalizando o papel dos cursos de administração nesse distanciamento entre a
universidade e a comunidade, podemos usar como exemplo o depoimento do empresário Olavo
Setúbal:
“Os alunos passam quatro anos voltados para o estudo de
casos absolutamente inúteis para o Brasil. Eles analisam
como a Nestlé comprou uma fábrica de chocolate na
Inglaterra para ter o domínio da marca. Aqui o número de
empresas que operam dentro de um contexto tão amplo é
muito pequeno. Mas os professores de nossas escolas de
administração acham muito mais bonito e estimulante analisar
a General Motors, a Mitsubishi e a Nestlé do que estudar
como um botequim ou uma pequena empresa sobrevivem”
(Veja, 1996:10).
Esse ponto de vista deve ser ponderado, uma vez que reflete questionamento do meio em
que nossos alunos atuarão.
Foi pensando nesse cenário que propôs-se na UNIMEP o desenvolvimento de um
projeto de pesquisa4 com o objetivo de contribuir para a identificação do perfil do Administrador
ainda em formação permitindo assim mudanças no eixo do curso a partir de revisões processuais
do seu projeto pedagógico. Considerou-se que o estagiário solicitado pelas empresas do setor
3 . Vinculado ao Curso de Administração, criado com o objetivo de gerar “feedback” ao curso através de
estudos e pesquisas, bem como promover a integração com o meio empresarial.
4. Desenvolvido na forma de Projeto de Iniciação Científica, contando com dois bolsistas, sob o título “Uma
análise do perfil do aluno do Curso de Administração da UNIMEP que realiza estágio extracurricular em
empresas do setor industrial de Piracicaba”.
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industrial da região de Piracicaba é um profissional de administração em formação e a opinião
dos empresários é uma informação significativa que não pode ser desconsiderada.
Concentramos os esforços no estudo do estágio extracurricular, uma atividade não
prevista no currículo do curso porém de grande valia para o aluno por se tratar de oportunidade
de estreitamento de contato com o cotidiano, permitindo-lhe a aquisição de um referencial
prático para a elaboração dos aspectos teóricos trabalhados em sala de aula.
A atividade desse estágio constitui-se, pois, em um momento privilegiado na vida do
aluno ao permitir sua participação nas duas realidades, a acadêmica e a empresarial, sem que
perca de vista seu verdadeiro papel na sociedade, ou seja, o de um profissional completo que
compreende os aspectos técnicos de sua profissão bem como os aspectos sociais que envolvem
seu trabalho. Acreditamos que o aluno somente poderá construir seu pensamento crítico e
desenvolver as habilidades necessárias para o ajuste à realidade se tiver a oportunidade de
analisar as questões dos pontos de vista acadêmico e prático.
O projeto, com características de interdisciplinaridade, envolveu as áreas de
administração e estatística, considerando que a construção do saber administrativo decorre da
capacidade de diálogo com diversas áreas de saber, exigindo que o administrador seja dotado
de habilidades outras além das instrumentais.
O estudo foi desmembrado em duas etapas. A primeira, em fase de conclusão, teve por
objetivo investigar o perfil do estagiário solicitado pelas empresas do setor industrial da região de
Piracicaba e verificar se há alguma relação entre esse perfil e o tamanho das empresas
pesquisadas. Na segunda, com início previsto para o segundo semestre/98, pretende-se
identificar o grau de satisfação dos estagiários tendo em vista a contribuição dessa atividade à sua
formação profissional e, finalmente, analisar a relação entre o perfil identificado no estudo e
aquele proposto pelo projeto pedagógico do Curso de Administração da UNIMEP.
DISPOSITIVOS LEGAIS QUE DÃO SUPORTE AO ESTÁGIO
O estágio de estudantes é regido pela lei 6.494, de 7 de dezembro de 1977,
regulamentado pelo Decreto 87.497 de 18 de agosto de 1982. Esses dispositivos legais
consideram como candidato ao estágio, o aluno regularmente matriculado em escolas públicas ou
particulares de níveis superior, profissionalizante de 2o. grau e supletivo (art.1o). A importância
dessa atividade decorre principalmente da sua contribuição para a formação do estudante, já que
somente poderá ocorrer em unidades que tenham condições de proporcionar experiência prática
na linha de formação (art.1o, §1o).
“A integração dos estudantes com o mercado de trabalho é
peça fundamental para complementação dos estudos feitos
pelos alunos dos estabelecimentos de ensino superior e de
ensino profissional de 2o . grau. Essa relação deveria ser
discutida com bastante profundidade entre instituições
educacionais e empresas, com o intuito de evitar resultados
complexos para os segmentos interessados” (Alves, sd:9).
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O estágio em empresas precisa de alguns cuidados da parte da instituição de ensino de
origem do aluno no sentido de acompanhá-lo, apoiá-lo, além do cumprimento de algumas
formalidades legais, uma vez que esta atividade pressupõe a complementação do ensino e da
aprendizagem (art.2o, §2o),
“sob pena de serem os estudantes automaticamente considerados
empregados, com a criação de vínculos tácitos com as
organizações empresariais que os acolhe” (idem, sd :9).
Para garantir a legalidade do estágio é preciso que haja o envolvimento das três partes
interessadas: o estudante, a entidade que o recebe e a escola de origem do aluno. O
compromisso entre as partes é registrado através de um contrato, termo de compromisso
conforme exigência da lei (art.3o). Apesar da existência desse contrato, a lei esclarece que o
estágio não cria vínculo empregatício (art.4o), não obriga a remuneração, mas obriga a empresa a
fazer seguro do estagiário contra acidentes pessoais (art. 4o). Normalmente as empresas
remuneram os estagiários através da concessão da chamada “bolsa-auxílio”, cujos valores são
por ela definidos, variando de acordo com a jornada de trabalho cumprida pelo estudante e
sobre os quais não incidem encargos sociais. O horário estabelecido pela entidade que oferece o
estágio deve ser compatível com o escolar (art.5o.), podendo ser modificado nos períodos de
férias escolares, de comum acordo entre o estagiário e a parte concedente do estágio, sempre
com a interveniência da instituição de ensino (art. 5o, § único).
A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIMEP
Na UNIMEP, o acompanhamento dos trabalhos com estágios extracurriculares do
Curso de Administração está a cargo do CEPA que, tendo iniciado suas atividades nessa área no
primeiro semestre de 1995, registrou uma evolução significativa tanto quantitativamente como
qualitativamente, como mostra a Tabela 1 a seguir:
Tabela 1. Evolução do número de estagiários no período 93/98 - CEPA
PERÍODO BANCO DO BRASIL OUTRAS EMPRESAS TOTAL
06/93 10 s/d 5 10
12/93 41 2 43
06/94 57 29 86
12/94 80 40 120
06/95 83 52 135
12/95 91 61 152
06/96 9 60 69
12/96 9 55 64
06/97 6 82 88
12/97 8 70 78
03/98 8 102 110
04/98 8 132
5 . Não temos dados disponíveis referentes a este período.
9
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O destaque dado ao Banco do Brasil decorre do fato de que até dezembro/95 era a
empresa que oferecia maior número de vagas para estágio. As partir de então, houve
transferência para a cidade de Campinas do setor que absorvia esses alunos provocando uma
queda na oferta de vagas. Entretanto, nesse mesmo tempo, outras empresas da região de
Piracicaba passaram a intensificar a procura por estagiários do Curso de Administração da
UNIMEP. O ganho qualitativo se deu em decorrência do perfil desses novos estágios e o
quantitativo, em função do aumento global.
Esses dados são significativos uma vez que o curso conta com aproximadamente 1.000
alunos, mais da metade estudando no período noturno. Destes, em 1996, 80% tinham vínculo
empregatício e 20% estagiavam. Já no período diurno, na mesma época, 44% dos alunos
trabalhavam e 11% faziam estágio6. Essa situação reforça a importância do presente estudo.
PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Estabeleceu-se como o universo objeto de investigação as empresas do setor industrial
da região de Piracicaba disponíveis no Banco de Dados do CEPA, alimentado por suas linhas de
pesquisa.
Para classificação das empresas por tamanho, foi adotado o critério desenvolvido e
utilizado pelo CIESP, através do qual as empresas são enquadradas em uma dentre 10
categorias pré-estabelecidas, tomando por referência variáveis como faturamento anual, número
de empregados e valor do capital social, conforme Tabela 2 a seguir:
Tabela 2. Classificação das empresas por tamanho7
grupo empresa no empregados faturamento anual (US$) capital registrado8 (US$) media
ponderada
01 micro A até 09 até 180.000 até 18.000 10
02 micro B 10 a 29 180.001 a 540.000 18.001 a 54.000 11 a 20
03 pequena A 30 a 99 540.001 a 1.800.000 54.001 a 180.000 21 a 30
04 pequena B 100 a 199 1.800.001 a 3.600.000 180.000 a 260.000 31 a 40
05 média A 200 a 399 3.600.001 a 7.200.000 360.001 a 720.000 41 a 50
06 média B 400 a 699 7.200.001 a 12.500.000 720.001 a 1.250.000 51 a 60
07 grande A 700 a 999 12.500.001 a 18.000.000 1.250.001 a 1.800.000 61 a 70
08 grande B 1.000 a 3.999 18.000.001 a 72.000.000 1.800.000 a 7.200.000 71 a 80
6 . Dados disponíveis no CEPA indicam que dos alunos do período noturno 55% são empregados, 12%
proprietários e 13% filhos de proprietários e do diurno, 11% são empregados, 12% proprietários e 19%
filhos de proprietários.
7 . Procedimentos para classificação das empres as conforme tamanho, com o uso da tabela do CIESP, a partir
das informações obtidas pelas empresas:
a) Enquadrar a empresa nos grupos correspondentes ao número de empregados, ao faturamento anual e ao
capital registrado;
b) multiplicar por 4,5 , o número de grupo correspondente à faixa de número de empregados,
procedendo da mesma forma para o faturamento anual. Multiplicar por 1, o número de grupo
correspondente à faixa do valor do capital social.
c) obter a média ponderada somando o resultado das operações acima;
d) enquadrar as empresas nas classes de acordo com o resultado obtido acima.
8 . Como o valor do capital nem sempre corresponde ao tamanho da empresa, o CIESP adota um valor fictício
correspondente a 10% do faturamento anual declarado.
10
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09 macro A 4.000 a 9.999 72.000.001 a 180.000.000 7.200.000 a 18.000.000 81 a 90
10 macro B acima de 10.000 acima de 180.000.001 acima de 18.000.001 91 a 100
fonte: CIESP - Regional Piracicaba.
A opção pelo setor industrial da região de Piracicaba deveu-se à maior disponibilidade de
dados e por se tratar da realidade dos alunos do curso. A maioria dos alunos (aproximadamente
60%) residem e trabalham em cidades da região9.
Outra fonte utilizada para levantamento de dados foi o Banco de Dados do Centro de
Integração Empresa-Escola (CIEE) que reúne informações sobre: estudantes cadastrados,
estagiários e contratos em andamento e atividades desenvolvidas nas empresas.
TRATAMENTO DOS DADOS
Na primeira etapa do estudo, para traçar o perfil do estagiário foram distribuídos 300
questionários de múltipla escolha às empresas com o objetivo de obter informações sobre:
(a) perfil empresa (tamanho; se é familiar ou não);
(b) características do estágio (área de atuação, tarefas );
(c) benefícios oferecidos (bolsa-auxílio, alimentação, transporte, assistência médica e
odontológica e lazer);
(d) requisitos do estagiário para preenchimento da vaga oferecida (aptidões requeridas);
(e) avaliação das empresas sobre sua experiência com estagiários (aspectos positivos,
negativos e sugestões).
(f) verificar se as empresas estão usando o estágio como fonte alternativa de recrutamento.
Para a segunda etapa, pretende-se distribuir questionários aos alunos regularmente
matriculados no curso e que tiveram experiência como estagiários em empresas industriais da
região de Piracicaba, com o objetivo de avaliar o seu nível de satisfação e também verificar se o
estágio contribuiu, sob seu ponto de vista, para a sua formação profissional.
TAMANHO DAS AMOSTRAS
A amostra da primeira etapa é composta por 28 empresas que responderam o
questionário e a referente à segunda etapa, ou seja, dos estagiários, deverá se compor pelo
número de alunos estagiários e ex-estagiários que estiverem regularmente matriculados no Curso
de Administração no semestre da realização do levantamento dos dados.
ANÁLISE DOS DADOS
9 . CEPA. Dados obtidos através de estudos desenvolvidos na disciplina Estatística, do Curso de
Administração.
11
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A partir da sistematização dados coletados na primeira etapa da pesquisa, podemos
traçar o perfil da amostra das empresas. São ao todo 28 empresas do setor industrial, das quais
23 (82%) estão instaladas em Piracicaba e 5 (18%) em cidades da região. Quanto ao tamanho,
tem-se a seguinte classificação, segundo os critérios adotados pelo CIESP, na qual estão
incluídas apenas as 18 empresas que forneceram os dados necessários (número de empregados
e faturamento) conforme mostra a Tabela 3:
12
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Tabela 3. Classificação das empresas segundo o número de empregados e o faturamento
classificação no.empresas
micro A 1
micro B 1
pequena A 4
pequena B 5
média A 1
média B 1
grande A 0
grande B 2
macro A 2
macro B 1
total 18
Temos uma segunda classificação aplicando-se a Tabela 2 se considerarmos apenas o
número de empregados. Nesse caso, pudemos incluir as 28 empresas como mostra a Tabela 4:
Tabela 4. Classificação das empresas segundo o número de empregados
classificação no.empresas
micro A 1
micro B 5
pequena A 7
pequena B 3
média A 3
média B 3
grande A 3
grande B 3
macro A 0
macro B 0
total 28
Como o propósito do trabalho era o estudo do perfil administrador em formação, foram
consideradas as empresas com estagiários do Curso de Administração na época da pesquisa.
Assim, dentre as 28 empresas apenas 10 (36%) preencheram esse requisito. É importante
ressaltar que esse total, aparentemente reduzido, é bastante significativo se tomarmos como
parâmetro o número de empregados. As 28 empresas empregam 11.420 pessoas e as 10
selecionadas, 7.854 (68%).
A decisão por essa amostra foi reforçada pela tendência de efetivação dos estagiários,
assinalada em 47% das empresas10. Os dados sugerem que apesar de significativo, esse índice
poderia ser maior em caso de uma integração mais intensa entre a universidade e a empresa.
10 . Como exemplo, pode ser citada a Caterpillar do Brasil que, de acordo com um levantamento feito em
abril/98, dos 38 estagiários cadastrados no CEPA, 9 haviam sido efetivados (24%).
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Apenas 13 (46%) das empresas estão, de alguma forma, satisfeitas com o seu relacionamento
com as universidades.
Apesar disso, os empresários consultados vêm o estágio extracurricular como uma
atividade favorável à formação profissional, uma vez que 61% acreditam que os alunos podem
assim desenvolver uma visão global dos problemas e complementar sua aprendizagem. Esse
resultado é relevante, ainda que parcial, considerando que a pesquisa não está completa, e por
tratar-se de um conjunto de empresas, em sua maioria pequenas e médias, pois apontam as
mesmas conclusões verificadas em pesquisa realizada pela ANGRAD em 199611.
E inegável a importância do número de estagiários efetivados após o término do contrato
de estágio porém deve-se destacar que aproximadamente 25% dos alunos do Curso de
Administração da UNIMEP são filhos de empresários12 e que 12% são proprietários de
negócios13. Tal contexto sinaliza a necessidade de ser trabalhar com um projeto de curso, cujo
eixo contemple a formação de empreendedores de forma a estimular o desenvolvimento de
habilidades que os conduzam a uma postura inovadora e crítica coerente com a realidade em que
vivem.
Esta mesma preocupação pode ser verificada em duas pesquisas realizadas na UNIMEP,
com o propósito de subsidiar a elaboração do projeto pedagógico do Curso de Administração14.
Concluímos portanto que coordenadores de curso15 e os empresários consultados16
partilham as mesmas preocupações com relação ao perfil do profissional de administração.
Porém, queremos ressaltar que apesar dessa identificação de visão, é preciso levar em
consideração que a realidade regional na definição dos caminhos a serem seguidos pelos cursos
na formação desse profissional. No caso específico em estudo, aponta-se para uma realidade
empresarial em que predominam as pequenas e médias empresas, e uma forte tendência de se
estar formando futuros empresários. Diante deste quadro, a visão global, ética, espírito crítico
empreendedor, somente poderão ser desenvolvidos mediante uma formação interdisciplinar e
permanente.
11 . Pesquisa PHAD/96 - Perfil e habilidades do administrador da ANGRAD (Associação Nacional dos Cursos
de Graduação em Administração).
12 . Ana Maria Romano CARRÃO. As empresas familiares da região de Piracicaba sob a ótica dos empresários:
uma investigação, p.16.
13 . CEPA. Dados obtidos através de estudos desenvolvidos na disciplina Estatística, do Curso de
Administração.
14 . a) Perfil do profissional de administração - pesquisa realizada em 1997, pela disciplina Estatística I do Curso
de Administração, junto a 30 empresas da cidade de Piracicaba. .
b) Contribuição dos egressos para a melhoria da metodologia de ensino do Curso de Administração de
Empresas - pesquisa realizada pela disciplina Estatística I do curso, junto aos egressos do período 93 -97.
15 . conforme pesquisa realizada pela ANGRAD.
16 . nas pesquisas realizadas pela UNIMEP.
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VI- BIBLIOGRAFIA
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